Reações Nucleares
Quando dois núcleos se movem um em direção ao outro e,
apesar da repulsão coulombiana, se aproximam o suficiente para
que haja interação entre as partículas de um com as partículas
do outro pela força nuclear, pode ocorrer uma redistribuição de
núcleons e diz-se que aconteceu uma reação nuclear.
Usualmente, as reações nucleares são produzidas
bombardeando-se um núcleo alvo com um projétil que pode ser
algum tipo de partícula ou núcleo pequeno, de modo que a
repulsão coulombiana não se torne um obstáculo muito grande.
As reações que envolvem energias não muito grandes ocorrem
em duas fases.
Na primeira fase, o núcleo alvo e o projétil se agrupam,
formando o que se chama de núcleo composto num estado altamente
excitado.
Na segunda fase, o núcleo composto decai por qualquer
processo que não viole os princípios de conservação.

Por exemplo, uma partícula a,
com uma energia cinética de cerca de 7 MeV, colide com um núcleo
de nitrogênio 14. O resultado é um núcleo composto que consiste
de todos os núcleons da partícula a e
do nitrogênio 14 num estado altamente excitado.
Esse núcleo composto, sendo constituído de 9 prótons, é um
núcleo de fluor. Como esse núcleo composto está num estado
altamente excitado, pode-se esperar que ele emita uma partícula
(ou um fóton) no processo de passagem a um estado menos excitado
ou ao estado fundamental do núcleo filho.
Se o núcleo filho é o do oxigênio 17, a reação é a
seguinte:
a + 14N 7
 [ 18F 9 ]
17O 8 + p
O núcleo composto persiste como entidade única por um
intervalo de tempo muito pequeno (menos de 10 -19
s), decaindo para um estado mais estável com a emissão de um
próton.
Como as energias de ligação da partícula
a, do núcleo de nitrogênio 14 e do
núcleo de oxigênio 17 são:
E( a) = [ 2 ( 1,0078 ) + 2 (
1,0087 ) - 4,0026 ] 931,4815 MeV =
28,3170 MeV  28 MeV
E(N) = [ 7 ( 1,0078 ) + 7 ( 1,0087 ) -
14,0031 ] 931,4815 MeV = 104,6985 MeV  105
MeV
E(O) = [ 8 ( 1,0078 ) + 9 ( 1,0087 ) -
16,9991 ] 931,4815 MeV = 131,8978 MeV  132
MeV
e como a partícula a incide com uma
energia cinética de cerca de 7 MeV, o próton emitido tem uma
energia cinética de cerca de ( - 28
- 105 + 7 + 132 ) MeV = 6 MeV.
Um núcleo composto pode decair por qualquer processo que
não viole os princípios de conservação. Por exemplo:
27Al13
+ p [ 28Si14
]  |
24Mg12 +
a |
|
27Si14 + n |
|
28Si14 +
g |
|
24Na11 + 3p
+ n |
Ainda como exemplo, considere as seguintes reações:
a + 24Mg12
[ 28Si14 ]
27Al13 + p
a + 9Be4
[ 13C6 ]
12C6 + n
Essas reações são interessantes porque produzem prótons e
nêutrons com grandes energias cinéticas.
Por outro lado, as partículas a
de fontes radioativas naturais são efetivas para produzir
transformações nucleares apenas em núcleos com números atômicos
menores que Z = 19 (correspondente ao potássio) devido à
intensidade da repulsão coulombiana entre essas partículas
a e os núcleos atômicos alvo.
Nêutrons, ao contrário, podem penetrar, em princípio,
qualquer núcleo, já que não são repelidos pelos prótons. Por
exemplo, um nêutron pode ser absorvido por um núcleo de prata
107 para formar um núcleo de prata 108:
107Ag47 + n [
108Ag47 ] 108Cd48
+ e- +
n*
O núcleo de prata 108 não ocorre na natureza, ou seja, é um
isótopo artificial da prata. Esse núcleo é radioativo e dacai
emitindo um elétron e um antineutrino e produzindo um núcleo de
cádmio 108.
A maioria dos núcleos artificiais são instáveis e
radioativos. Os núcleos radioativos artificiais são produzidos
por reações nucleares. Os elementos transurânicos, em
particular, são normalmente produzidos pela captura de nêutrons
seguida de decaimento b-.
Por outro lado, o que se chama de espalhamento é a reação
nuclear em que projétil e partícula liberada são a mesma
partícula. O espalhamento é elástico quando, durante o processo,
não varia a energia cinética da partícula, e inelástico, caso
contrário.
Transformações Nucleares
Existem vários
tipos de transformações nucleares, mas as que nos
interessam aqui são aquelas que ocorrem espontaneamente
e constituem o principal fenômeno relacionado com a
radioatividade natural. Este fenômeno, também denominado
decaimento radioativo ocorre em núcleos pesados,
cujas principais características são:
a densidade da
matéria nuclear é constante;
as forças de
interação próton-próton (p-p), nêutron-nêutron (n-n) e
próton-nêutron (p-n) não são muito diferentes;
existe uma forte
tendência para os núcleos apresentarem igual número de
prótons e nêutrons. Como essa tendência é oposta à
repulsão Coulombiana p-p, a conseqüência é que nos
núcleos pesados sempre há um excesso de nêutrons, para
garantir a coesão nuclear;
núcleos contendo
números pares de prótons e de nêutrons são mais
abundantes e mais estáveis do que núcleos contendo
números ímpares de prótons ou nêutrons.
A instabilidade
nuclear aumenta na mesma proporção do crescimento do
número de núcleons, e pode originar decaimento
radioativo e fissão nuclear. O decaimento radioativo é
seguido pela emissão de três tipos de radiação:
partículas alfa,
que são núcleos de hélio, 2He4;
partículas beta,
que são elétrons
raios gama,
radiação eletromagnética tipo raios-X.
Os núcleos que
apresentam este fenômeno foram denominados, por Marie
Curie, radioativos. Curiosamente, não se tem
notícia de decaimento com a emissão de prótons ou
nêutrons.
O decaimento
radioativo obedece a uma lei exponencial, do tipo
N=N0e-t/t
onde, N0
é o número de átomos radioativos no instante t=0, e t é
uma constante denominada vida média. Define-se a
meia-vida do processo, t1/2, o tempo
necessário para que a quantidade de material radioativo
reduza-se à metade. É fácil mostrar que
t1/2=tln2
Na simulação
abaixo, os pontos vermelhos representam núcleos atômicos
idênticos, de modo que todos decaem de acordo com a
mesma lei. A meia-vida desses núcleos pode ser escolhida
no cursor abaixo do gráfico. Clique no botão "iniciar" e
observe o decaimento. Visualmente, o decaimento é
representado pelo desaparecimento dos pontos vermelhos.
A lei do decaimento é representada na curva acima do
cursor, enquanto o tempo decorrido é mostrado no canto
superior direito. Repita a "experiência" para diferentes
valores de meia-vida. A qualquer momento o processo pode
ser interrompido; basta clicar no botão "reiniciar".
O inverso da vida
média, g=1/t, é conhecida como constante de
decaimento. Assim, outra forma de expressar a lei do
decaimento radioativo é
N=N0e-gt
A atividade de uma
substância radioativa é medida em termos do número de
desintegrações (ou decaimentos) por segundo, cuja
unidade é o curie. No sistema SI, 1
desintegração/s é definida como 1 Bq (Becquerel).
Portanto,
1 Ci = 3.7 x 1010
desintegrações/s = 3.7 x 1010 Bq.
O curie é a
quantidade de radiação emitida por 1 g de rádio, o
elemento químico descoberto por Marie Curie.
No início das
descobertas dos fenômenos relacionados com a
radioatividade, por volta de 1896, as principais
dificuldades foram perceber que o fenômeno era
espontâneo, e compreender a natureza das radiações
resultantes. Foi Rutherford quem identificou os três
tipos de radiação mencionados acima. Ele fez a radiação
passar por uma região onde havia um campo magnético e
descobriu que uma parte era desviada para um lado, outra
parte era desviada para o lado oposto, e uma terceira
parte não sofria qualquer desvio. Este resultado
permitiu que ele concluísse que uma parte do feixe era
constituída por partículas positivas, outra parte era
constituída por partículas negativas, e a parte que não
sofria desvio pela ação do campo magnético era algo do
tipo raios-X, ou radiação eletromagnética (mostre como
Rutherford concluiu que as partículas positivas eram
2He4 e as negativas eram
elétrons).
Quando um núcleo
emite uma partícula alfa, seu número atômico diminui em
duas unidades. Por outro lado, no decaimento beta o
número atômico cresce uma unidade. Portanto, o
decaimento faz desaparecer um tipo de núcleo e surgir
outro tipo. Ao final tem-se uma cadeia, iniciando com um
núcleo radioativo e terminando em um núcleo estável (não
radioativo).
A animação abaixo
mostra, de forma bastante realista, este processo de
decaimento para quatro núcleos radioativos: tório 232,
urânio 235, urânio 238 e plutônio 241. Os números
representam o número de massa. O processo pode ser
interrompido e reinciado a qualquer momento; basta
clicar no botão "iniciar/parar". Na janela à direita,
são apresentados alguns detalhes do processo (meia-vida
e quantidade de cada elemento da cadeia em cada
momento). Clique no botão "seqüência" e veja a cadeia
completa no gráfico número de nêutrons versus
número atômico.
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Física Nuclear
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